O RELACIOMENTO COM DEUS

Leítico 16.1-28
 Todo ano, em apenas uma única oportunidade, sempre no dia 10 do sétimo mês do calendário judeu (provavelmente entre setembro e outubro), o sumo sacerdote entrava no santuário para oferecer sacrifícios pelo seu próprio pecado e pelo pecado do povo. Esse dia era conhecido como o dia da expiação.
Nessa ocasião, Deus exigia que fossem sacrificados um novilho, um carneiro e um bode, e, ainda, um outro bode seria levado para o deserto para carregar o pecado da nação. Esse era um ritual muito importante para o povo de Israel, pois ensinava-lhes o caminho da adoração ao Senhor e, na verdade, esclarecia o que estava incluído no conceito de consagração a Deus.
O objetivo de Deus ao instituir essa prática era convocar o seus servos anualmente para um momento de quebrantamento e arrependimento coletivos (Lv 16.29). Seu desejo era que aquelas pessoas retirassem um tempo para a avaliação de suas vidas e para um sincera lamentação pela falta de fidelidade ao Senhor.
Isso amplia muito a ideia que temos de consagração a Deus. Parece meio estranho para nós, cristãos do século XXI, pensar que Deus marcaria uma data para que juntos ficássemos tristes.
A razão dessa estranheza é que estamos acostumados a pensar em nossa relação de igreja com Deus, como se ele fosse um enorme dono de supermercado e a igreja fosse seu imenso balcão, sempre pronto a atender-nos na medida em que precisarmos.
Segundo esse pensamento, devemos buscar as "bênçãos" que necessitamos, sem deixar que Deus tenha outros direitos sobre nós; a única preocupação dele deve ser a de satisfazer os nossos pedidos. Mas esse não pode ser e de fato não é o real significado da consagração a Deus.
Se desejamos compreender o real significado da consagração ao Senhor, precisamos aceitar que esta possui uma natureza completa. Nossa tarefa é sujeitar nossos pensamentos a Cristo, nossa vontade à Palavra e nossa disposição de oração ao Senhor nosso Deus. Tudo isso tem que estar envolvido. E, ainda mais, se queremos servir a Deus, precisamos esquecer algumas coisas que gostamos de lembrar, e lembrar algumas coisas que gostamos de esquecer.
É necessário, portanto, fazer uma revisão do que temos sido, de como temos vivido e o que temos feito para que, caso estejamos longe do Senhor, possamos voltar ao caminho que ele propôs a nós. 0 fato de haver um dia específico para uma avaliação da saúde do relacionamento entre o povo de Israel e Deus, ajuda-nos a identificar algumas lições muito importantes.

1 - O RELACIONAMENTO ENTRE DEUS E O HOMEM DEVE SER CARACTERIZADO POR REVERÊNCIA
O texto de Levítico diz que o dia da Expiação foi instituído logo após a morte dos dois filhos de Arão (Lv 16.1). Em Levítico 10, acompanhamos essa narração que conta como Nadabe e Abiú morreram por trazer fogo estranho diante do Senhor.
Eles já estavam achando que o serviço do santuário era algo que não demandava tanta reverência. Ficou evidente, porém, que a empolgação exagerada e um culto que não leva em conta a santidade de Deus não podem agradar ao Senhor.
O escritor cristão C. S. Lewis (Cartas do Inferno. Edições Vida Nova. São Paulo, 1964, p. 41) caminhou pelos limites da imaginação humana quando escreveu um livro onde pretendia revelar algumas correspondências entre um diabo mais experiente e seu sobrinho, novato na "arte" de destruir as vidas dos homens.
No entanto, o autor acerta completamente quando faz o demônio com mais sabedoria e sagacidade comentar que "na realidade, nossa atuação mais eficiente consiste em impedir que certas noções penetrem na consciência humana..."
Uma das grandes dificuldades que podemos enfrentar em nosso relacionamento com Deus é a falsa impressão de que já estamos acostumados com tudo o que está ligado a Deus, à sua Palavra e à igreja.
Esse sentimento coloca-nos em sérios problemas, pois diminui a verdadeira noção de Deus que as Escrituras apresentam. Acontece que, com o passar do tempo, nós acabamos por "humanizar a Deus". Passamos a pensar em Deus como um parceiro, um acompanhante de nossa vida social.
De igual modo, vemos que criamos para nós um status muito distante daquele que corresponde à realidade. Observamos que, uma vez que Deus passa a ser um indivíduo descaracterizado de glória e santidade plena, nós passamos a ser pessoas muito importantes às nossas próprias vistas.
Achamos até que temos as respostas para o progresso do cristianismo na terra. Ao invés de servos e instrumentos, consideramo-nos, agora, peças centrais do desenvolvimento da igreja.
A primeira ênfase que sempre deve dominar nosso pensamento ao buscarmos um relacionamento mais íntimo com Deus é que entre Deus e os homens existe uma diferença infinita (Is. 40.12-26), pois quando Deus estabelece aliança conosco é a aliança do eterno com os mortais, do santo com os pecadores, do imutável com os inconstantes, do soberano com os escravos, do misericordioso com os indiferentes.
Embora no Novo Testamento seja apresentada a ideia de um Deus companheiro, que se identifica com os homens, não se pode, entretanto, vulgarizar relacionamento com Deus como alguns têm feito.

2 - O PECADO PREJUDICA O RELACIONAMENTO ENTRE DEUS E O HOMEM
Além da falta de reverência que já é um fator muito sério e decisivo em nosso relacionamento com Deus, outro problema que nos complica é a realidade do pecado que carregamos não somente por atitude, mas primeiramente por natureza.
Para o apóstolo Paulo, o poder do pecado influencia tanto a vida do homem que o leva à morte espiritual (Ef 2.1).
Apesar do cristão possuir um espírito regenerado, a força do pecado ainda o arrasta para baixo em sua tentativa de agradar a Deus. Vejamos como o pecado está ligado ao ser humano:
De modo abrangente - Era de suma importância que tanto o sacerdote como o povo fossem até à presença de Deus com sacrifícios pelo pecado de suas vidas (v. 34). A realidade do pecado não se reduz a uma parcela da população mundial. O pecado é aquela energia maligna que atinge a todos. Esse fato dá-nos a consciência de que, apesar dos nossos melhores esforços, todos somos naturalmente pecadores (Rm 3.23; 5.12).
De modo insistente - A repetição anual e a forma enfática desse ritual mostram- nos a realidade do pecado. Lá se realizava a aspersão de sangue em duas etapas, sendo que em cada uma o sacerdote aplicava o sangue sete vezes com o seu dedo.
Ainda, o número de detalhes que precisavam ser cumpri- dos, como manter cheio de brasas o incensário e levar para dentro do santuário dois punhados de incenso aromático bem moídos, nos mostram a intensidade do problema que temos. Constantemente somos chamados ao arrependimento perante o nosso Deus (Rm 7.13-25; 1 Jo 1.5-10).
De modo degradante - A necessidade que aquele povo tinha era a de purificação (v. 30). O pecado tem a triste capacidade de corromper os nossos sentidos, desejos, pensamentos, propósitos e emoções. Tal corrupção só não nos destrói totalmente porque o Senhor nos preserva com sua graça abundante.
Veja só a condição que cada um de nós enfrenta! Queremos estar com Deus, mas, ao mesmo tempo, encontramos a força do pecado, que quer nos impedir. Mas, com a ajuda do Espírito Santo, o crente consegue superar, preservando a sua comunhão com Deus.

3 - O RELACIONAMENTO ENTRE DEUS E O HOMEM É POSSIBILITADO PELA EXPIAÇÃO
O Senhor, que é Todo-Poderoso, planejou que houvesse uma ponte entre ele e suas criaturas humanas. Essa ponte é a expiação dos pecados. É importante entendermos o processo da expiação. A distância que nos separa de Deus é o pecado que o ofende são problemas muito sérios. É por isso que, para que sua misericórdia não fosse contra sua justiça, Deus providenciou para nós, pecadores culpados, um meio de sermos perdoados e também de punir os pecados cometidos.
Esse meio foi a morte de Jesus. É por isso que dizemos que a morte de Cristo foi uma morte expiatória. Já no tempo do livro de Levítico, os israelitas eram ensinados a esperar que Deus os perdoasse através da morte e punição de outras criaturas inocentes. Isso preparava o caminho para o sacrifício completo e verdadeiro que Jesus ofereceu de si mesmo da cruz do Calvário (I Jo 1.7).
Podemos afirmar, com absoluta certeza, então, que o papel da obra de Jesus é central para termos, afinal, uma vida de comunhão pacífica e amorosa com Deus (Hb 10.19-23). Tal reflexão pode nos ajudar muito quando pensamos no preço pago por Deus para estabelecer a união conosco.
Esse sempre foi o maior e mais perfeito exemplo do amor de Deus em nossa direção, principalmente quando entendemos que éramos homens e mulheres perdidos. Baseados nesse fato, é de se questionar como levamos nossa vida, uma vez que, agora, pertencemos a Deus, em Cristo (Rm 6.22,23).

Shalom Adonai!

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